O trabalho com startups de tecnologia me lembra das aulas de Química que tive no ensino médio com o professor Arlindo.
Arlindo com seu bigodinho, típico dos anos 1980, entrava na sala de aula, deixava sua pasta em cima da mesa e voltava para a porta para fechá-la.
Quando metade da classe ainda estava no corredor, o professor segurava a porta com a mão esquerda e a agitava com força num movimento de “abre e fecha” gerando um efeito de abanador, um abanador gigante de 2,10 metros.
— “É para agitar os átomos dos alunos no sentido de fora para dentro da sala.”, brincava ele.
Eventualmente, os alunos mais distraídos levavam uma portada na cara, mas isso era apenas um detalhe. Professor Arlindo, muito querido.
E ele ia além. Dizia que alunos fora da sala de aula representavam a alta entropia (desordem), enquanto alunos dentro da sala de aula representavam a baixa entropia (ordem). Entropia de classe precisa ser sempre baixa, segundo ele.
O mundo das startup de tecnologia precisa de atitudes como essa de agitar. Agitar a equipe, agitar os sócios, agitar os trabalhos, agitar os contatos externos. Sem isso, a startup como um todo tende a aumentar o seu próprio “estado de entropia”.
Sócios e colaboradores mais engajados colocam o máximo de energia para diminuir a entropia do grupo. Criam tarefas, artefatos, deadlines e os distribuem publicamente. Esse estímulo serve de “abano” para puxar as equipes de volta a suas tarefas dentro do contexto da startup.
Num mundo cheio de distrações e bootstrappings, o descolamento do colaborador do seu trabalho é uma constante. Alguns se descolam tanto que sentem dificuldade de se reengajar no trabalho pelo simples fato de não saber mais o que fazer. Sua entropia cresceu demais e tornou-se irreversível.
É quando a gente comenta: “O cara tá perdido no projeto…”
Da mesma forma que o aluno que cabula uma ou duas aulas em sequencia tem grande dificuldade de acompanhar as aulas, o colaborador típico das startups luta contra forças maiores interessadas na sua atenção e engajamento, as redes sociais.
Portanto…
Valem ouro os líderes que conseguem ajudar suas equipes, mantendo a agitação necessária para o engajamento de todos.
São diamantes os colaboradores que conseguem controlar sozinhos sua atenção, mantendo-se engajados e produtivos dia após dia.
Foto do engenheiro de software por Lala Azizli via Unsplash
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