Depois de quase 30 anos no mercado de tecnologia e inovação, e tendo passado por todos os tipos de empresas, desde pequenas startups brasileiras até gigantes globais como a HP, posso afirmar:
Networking não existe.
Pelo menos não aquele networking que todo mundo imagina:
- você conhece pessoas no trabalho,
- desenvolve relacionamento com elas,
- elas percebem valor naquilo que você faz,
- elas te chamam para trabalhar com elas ou ajudam te indicam para outras pessoas que veriam valor no seu trabalho.
O que realmente ocorre é o seguinte:
- você conhece pessoas no trabalho,
desenvolve relacionamentocom elas, percebe que há vários grupos políticos disputando poder dentro da empresa,- você tenta descobrir seu espaço dentro desses grupos e faz escolhas, aproximações,
- se você conseguir ser aceito pelo grupo, você fica na empresa. Se não conseguir, darão um jeito de te trocar por outra pessoa de perfil mais adequado para o grupo. Alguns chamam isso de fit.
- recomendações e indicações feitas pelos seus (ex)colegas ao mercado vão depender da memória que eles têm do seu fit político.
É claro que se você é técnico e um bom “resolvedor de problemas”, será lembrado e indicado. Talvez seja a única exceção onde o networking é verdadeiro e honesto.
Se você é um people person, um líder, um gerente etc. valem as definições acima. Sua inteligência social na hora de jogar o jogo político será fundamental para o desenvolvimento de um networking funcional.
Você será sempre lembrado pelas suas atitudes diante de problemas, crises e, principalmente, nas disputas entre os grupos políticos.
“Vestir a camisa da empresa” significa que você joga o jogo político de acordo com as expectativas do grupo dominante.
— “Estou colocando estes 20 pedidos para vocês e prometi para os clientes que estaria tudo entregue na semana que vem, ok?”
— “Mas a gente não trabalha assim. Você sabe. São de 6 a 8 pedidos por semana, e já temos 4 na linha. Podemos te entregar 2 e você põe 20 com promessa para a semana que vem? Isso vai acabar com a nossa moral com o cliente.”
— “Falei com [líder do grupo político dominante] ontem. Ele autorizou.”
Neste ponto o networking do vendedor que “veste a camisa da empresa” está perfeito para o diretor que autorizou o lote de pedidos que colocará em risco o pós-venda da empresa.
Por outro lado, o mesmo vendedor nunca será associado a boas memórias junto ao pessoal de pós-venda. Nunca poderá pedir a eles uma ajuda ou indicação, pois quem indica alguém, o faz para ajudar um amigo, não para prejudicá-lo.
Perceba que o motivo da tensão é muito nobre: vendas. Mais vendas. 10 vezes mais do que a empresa suportaria normalmente.
O que provocou isso? Oportunidade no mercado? Timing comercial? Ou pressão e um líder muito preocupado com seu bônus, porém displicente com a capacidade da empresa de honrar seus compromissos com clientes?
Pense bem. Questione-se sempre sobre suas decisões e caminhos dentro da empresa.
Pense bem em qual time você quer jogar; ele pode ser seu primeiro ou último.