TL;DR – Pare de acessar sites de notícias. Saia das redes sociais. Vai ser melhor pra você.
Você precisa acessar todos os sites de notícias, todos os dias.
E os acessa o dia todo.
Acessa mil vezes por dia.
Ao menor sinal de tédio, dá um clique direto para aquela notícia; quanto mais provocadora, melhor.
Mas, por que? Por que tudo isso? Há um motivo racional?
Manter-se atualizado? Informado? Alinhado com a opinião de ciclano ou beltrano?
Ou você não tem uma opinião e quer ter uma. Quanto vale essa opinião? Vale o investimento de tempo para formá-la?
E se você continuar sem uma opinião sobre tal assunto? Qual é o dano?
O que pode acontecer com você caso não tenha qualquer opinião sobre qualquer um dos assuntos que populam os sites de notícia?
Muito provavelmente: nada.
Se o seu trabalho, a sua família e você mesmo como indivíduo dependem de uma informação ou opinião específica para lidar com o dia a dia, provavelmente esse processo estará sob a responsabilidade de alguém e, portanto, você saberá. Uma hora ou outra, pelo bem ou mal, você saberá.
E as redes sociais? Qual é o ganho pessoal em acessá-las?
“Manter contato. Ficar sabendo dos aniversários e dos velórios.”
De 847 pessoas ao mesmo tempo? Vale a pena?
Quem são as pessoas importantes? Com quem você conversa sem precisar de um lembrete disparado por um robô das redes sociais?
Por que essas pessoas são importantes?
Tanto as notícias como os “amigos” nas redes sociais são pequenos pontos no horizonte. Para vê-los com clareza é necessário usar uma luneta.
Esses pontos distantes não lhe tocam. Não estão “aqui”, nem “agora”. São elementos imaginários. Entraram na sua cabeça apenas porque você olhou pela luneta. São inalcançáveis, impossíveis.
A mesma luneta que os aproxima e dá foco, retira sua atenção para coisas mais importantes que estão por perto.
As coisas mais importantes para você são as que estão mais perto.
A mais importante delas é você mesmo. Ou melhor, a sua cabeça, a sua consciência. Perca a consciência e você estará morto, mesmo se mantiver os olhos abertos.
Cuide da sua saúde mental e da sua consciência. Identifique o que é necessário para a manutenção desse estado saudável.
Depois, cuide do seu corpo, esse pedaço de massa que transporta sua cabeça. Não agrida esse corpo, sua cabeça precisa muito dele.
Olhe-se no espelho, todos os dias. Todo ser humano precisa de um espelho, um espelho grande o suficiente para mostrar o corpo inteiro.
Olhe-se no espelho, nu, todos os dias. Analise este corpus por alguns instantes. Ele está bem? Está “equilibrado”? Você gosta dele?
No começo pode ser difícil porque você se acostumou a ver-se no espelho apenas através da tela de um celular, fazendo poses e aplicando filtros. Transformando seu corpo em mais um ponto no horizonte infinito de observações. Em poucos minutos aquele ponto se vai. Ele desaparece das timelines, do Status, e você, pendurado de volta na luneta, imagina como tudo deve acontecer agora para colocar mais um ponto seu lá longe naquele mundo tão distante.
Vista-se. Olhe-se novamente no espelho. Esqueça o celular por um momento.
Você está bem? Gosta dessas roupas. Elas ainda têm a ver com você, com o seu momento de vida? Elas “te representam”? Ou você não liga para elas?
Chame as pessoas que vivem com você para próximo do espelho. Olhem-se.
Estão bem? Estão tão bem quanto você? Que sensação estranha, não? É muito mais fácil olhar apenas pela luneta, não é? Mais seguro. Os outros também não lhe veem.
Quanto tempo vocês conseguem ficar nessa situação? Alguns segundos? Minutos?
Alguém fala alguma coisa? Alguma opinião? Sua preocupação sempre foi buscar opiniões de terceiros. E as opiniões desses que estão aí no espelho com você, valem alguma coisa? Valem alguma coisa neste exato momento?
E quando alguém não puder estar mais no espelho por conta de doença ou morte? Como será?
E quando você não puder mais se ver no espelho por motivo de força maior? Sim, uma força maior que o manterá trancado numa cela, ou acamado ou num jazigo.
Esse encontro com o espeço deveria ser o mais importante. Um verdadeiro ritual de consagração e de agradecimento pela vida.
Porém, valorizamos a luneta. Que desperdício.
Foto de capa licenciada pelo Envato Elements.