Se existe um tipo de ambiente de desenvolvimento hiper favorável ao acúmulo de dívida técnica, ele é a ferramenta de desenvolvimento no-code.
A facilidade de clicar e arrastar componentes para dentro de uma página em branco, e sua configuração rápida permite que um desenvolvedor trabalhe sem qualquer tipo de postura defensiva. O canvas aceita qualquer absurdo.
Por outro lado, o desenvolvimento flui bastante. Entrega-se muito mais por hora dedicada. Só não é possível dizer que existe boa qualidade ou consistência.
MAS! — e aqui o fator que motivou este texto — o excesso de dívida técnica gera dois benefícios importantes para o desenvolvedor:
- A percepção e o reconhecimento da existência da dívida.
- O desenvolvimento da habilidade necessária para sanar a dívida.
Em ambos os casos, o profissional precisará romper as barreiras colocadas pela plataforma no-code e explorar soluções na área de engenharia de sistemas, modelagem de dados, UX etc.
O resultado gera um ritmo de trabalho onde existem saídas da zona de conforto do no-code, mas com rápido retorno. A mesma facilidade que a plataforma lhe dá para acumular dívida técnica está presente nos processos de remoção.
Agilidade. Sim. Muita agilidade.
Desenvolvedores mais experientes passam a impressão de serem super zelosos na hora de expandir o codebase, afinal de contas, menos código = menos chance de acúmulo de dívida técnica.
Os desenvolvedores que surgem agora com experiência apenas em plataformas no-code não têm esse feeling, mesmo porque não têm contato com código, não sentem aquele peso na consciência quando deixam algo para trás sabendo que terão de voltar para corrigi-lo no futuro.
O clima é sempre de prototipagem. De pintar muros que serão derrubados no dia seguinte — claro, a pintura não demorou 1 minuto.
Páginas, componentes e até workflows complexos com integrações com serviços externos são clonados como quem copia elementos dentro do PowerPoint.
Se ficou feio ou torto, é só consertar, afinal, todo mundo tem 1 minuto a mais no dia.