É compreensível que 99,99% da população brasileira não saiba o que faz Bonoro, o que faz Doriana, o que faz o Gov. Ratinho, o que faz o Botafogo, o que faz o Mamãe Falei etc. etc. ad infinitum.
Seus feitos não são noticiados, somente suas falas.
Nosso país avança com base no que fulano e ciclano supostamente disse. O cara pode ser um zé ruela, mas se souber se comunicar, não falar palavrões e nem ofender o outro, terá muito sucesso na vida política.
Ou, também, pode ser uma múmia bem sucedida. O senador Romário, por exemplo. O senador Serra, outro exemplo. Marina Silva dá uns pitacos aqui e ali, mas é múmia também. Só saem da tumba a cada 4 anos para pedir votos nas eleições. Só.
Enquanto os tagarelas do dia a dia, grupo onde se encontra Bolsonário, lutam com a língua portuguesa, com a imprensa, com os fact checkers de 1,99 e todos os Admins dos grupos de Whatsapp, os múmias apenas assinam o ponto e fazem pipoca.
— “Mas nem uma declaraçãozinha hoje?”, perguntaria o engajado repórter.
— “Via assessoria e em nota.”, responde algum preposto de múmia.
Como tirar do contexto uma nota de assessoria? O pior: um texto sem gracinhas, palavrões ou termos dúbios.
Muito pior: a nota não esclarece o ocorrido. Não traz o fato. O que se tem é um enunciado e depois algumas indicações do que poderá ser feito em breve pelo político se, e somente SE, isso ou aquilo forem feitos antes por outros políticos, poderes, instituições, órgãos e afins. A nota termina com um fulminante verbo na terceira pessoa do plural do tipo: “Aguardamos…”
Quem fala para os microfones não tem esse luxo. Se disser que “meninos vestem azul e meninas vestem rosa”, pronto, seu autor passou um atestado público de homofobia, de conservadorismo cafona e nonsense.
E quem disse pela primeira vez: “Cadê o Queiroz?”; alguém sabe? E o “Cadê os 89 mil da Michelle?”; o “Quem mandou matar Marielle?” ou “Quem mandou matar Bolsonaro?”, ou ainda, “Ele, o deputado namorado da Fátima Bernardes…”
Não sei se para você tem o mesmo efeito, mas para mim, responder essas perguntas com um curto “sei lá…” só perde em satisfação para a primeira urina da manhã.
Eu arriscaria dizer que essas perguntas não nasceram na base da sociedade. O povão não precisa de qualquer possível resposta para elas. Tanto a pergunta como qualquer resposta são irrelevantes para quem acorda cedo e vai trabalhar. Tão irrelevantes quanto as fotos da revista Caras que folheamos numa sala de espera.
Tão irrelevantes quanto o passado político de um Bolsonaro (qualquer um do clã) e do Mamãe Falei, por exemplo. O que ele fizeram para merecer tantos votos nas eleições? Alguém sabe? Mamãe Falei nasceu politicamente para ser, de cara, um legislador para 44 milhões de habitantes do maior estado brasileiro. Bolsopai ficou 28 anos soterrado no baixo clero da câmara dos deputados para emergir como uma marmota em 2017.
O que eles têm em comum? Falam. Falam muito. O povo os conheceu pelas abobrinhas que diziam. De vez em quando, uma treta, mas nada além de empurrões e cusparadas tão comuns em qualquer arquibancada de estádio de futebol. Normalíssimo.
Não para a imprensa! O que é uma cusparada na cara perto de “só uma gripezinha”? O nobre deputado poderia adotar o hábito de mascar fumo e cuspi-lo aos quatro cantos da esplanada. Não seria sequer notado. Talvez alguns tipos até já o façam mas, como são múmias, ninguém percebe.
Já no caso dos falantes, todo cuidado é pouco. Se disser aos microfones que “Meu segurança me contou que o deputado quase cuspiu no pé dele.”, a mensagem corre o risco de chegar às manchetes como “Bolsonaro ameaça cuspir.”
O Brasil se tornou um grande sanatório onde o passatempo principal é a brincadeira de “telefone sem fio”. Os políticos falantes começam! Múmias e loucos caem na gargalhada.