Central de gestão de ameaças, bom dia! Com quem eu falo?
“Como assim, ‘com quem eu falo’? Eu já digitei meu CPF. Você não tem meu nome aí na sua tela? Se você perguntar mais uma vez qualquer dado pessoal meu, vou ligar na ouvidoria.”
Desculpe, senhor. Como posso ajudá-lo?
“Senhor quem? Qual é o meu nome? Me fala ou eu desligo agora!”
Desculpe, senhor Roberto. Como posso ajudá-lo hoje?”
“Olha, o meu problema é muito sério! Se você não puder me ajudar, eu juro que vou fazer de tudo para acabar com a empresa.”
Sinto muito em escutar isto, senhor Roberto. Qual é o problema que o senhor enfrenta?
“Presta atenção! Vou falar apenas uma vez e aí de você se não entender.”
Pois não.
“Pensando bem, e se eu não te disser o motivo da minha ligação?!”
Entendo, senhor Roberto. É por isso que mudamos o nome da equipe onde eu trabalho. Antes ela se chamava “Central de Atendimento” e, agora: “Central de Gestão de Ameaças”. Tenha certeza de que estamos mais preparados do que nunca para atendê-lo!
“Veja bem: eu não perguntei nada disso para você. O assunto aqui sou eu e essa minha compulsão pelas ameaças. E daí que a sua área mudou de nome? Espero que esse tipo de tratativa, essa baixo nível de atendimento não continue. Senão…”
Senão… o quê?
“Senão… senão vocês vão ver o que vai acontecer!”
O senhor poderia nos dar mais detalhes, senão serei obrigado a encerrar nossa troca de ameaças. Desculpe, mas este é o nosso protocolo.
“Não faça isso! Você vai se arrepender! Se você fizer…”
O que?
“Não me interrompa enquanto eu lhe ameaço! Que absurdo! Onde já se viu?!”
Senhor, eu ainda não lhe ameacei. Posso fazê-lo agora?
“Ah, por favor. Quando quiser.”
Bom. Se o senhor não me disser o motivo da sua ligação e das suas ameaças, eu irei cancelar a sua conta hoje mesmo. O senhor perderá o acesso a ela e a todos os nossos canais de ameça.
“Não faça isso seu filho da… da…, ou eu te mato!”
E se nós fizermos um acordo? O senhor me diz o motivo da sua ligação. Eu o analiso e depois lhe devolvo algumas ameaças. Ameaças leves.
“Ameaças bobinhas?”
Positivo, senhor. Porém, caso o senhor insista em não me dizer o motivo da ligação, o tom das ameaças poderá mudar radicalmente. Para pior, claro.
“Nossa! Uau! Gostei também!”
Desculpe, senhor. Não ouvi. Houve um corte de áudio logo após o senhor dizer “Nossa…”; poderia repetir, por favor?
“Você está me pedindo para repetir, seu moleque? Faça isso de novo e eu irei até aí te caçar!”
Vias de fato?! Adorei.
“Adorou?” — risos.
Sim. Quando as ameaças avançam para vias de fato, meu supervisor que nos escuta agora aponta um bônus para mim neste atendimento.
Olha, isso passou de todos os limites. Podemos deixar o motivo da minha ligação de lado? Pensando bem, adoro a empresa de vocês e… e esse departamento de ameaças é realmente algo que funciona.
“Agradeço pelo elogio, senhor. Ajudo com algo mais? Senão, irei desligar agora.”
Então desliga, senão desligo eu.
Imagem de capa do Adi Goldstein via Unsplash