A Lívia Lanzlaster postou em seu blog uma tradução do interessante “The Crisis of the Intellectual Life” da Zena Hitz, e nele há indicações que eu considero muito precisas sobre o que a autora chama de “vida intelectual”, intellectual life.
Em maio deste ano iniciei uma jornada literária com a leitura dos livros da série Duna, e isso mudou completamente meu relacionamento com a tal “intelectualidade” e, principalmente, com a minha própria introspecção.
Quando li o texto de Hitz, sua breve conceitualização do que é a vida intelectual serviu quase como um checklist para mim. Cada ponto descreve com precisão os sentimentos presentes no meu dia a dia quando me dedico à leitura do livros de Duna.
Os comento aqui para poder voltar e relembrá-los no futuro.
A vida intelectual é:
- “…a form of the inner life of a person, a place of retreat and reflection.“ — sim, sem dúvida, principalmente para um pai de família com filhos pequenos, um cachorro, um gato e três empresas para cuidar. Meu foco está sempre no mundo exterior. Minha postura precisa ser sempre “extrovertida” para entender o que está acontecendo, analisar, tomar decisões e agir. Retreat and reflection é a antítese disso tudo: um recolhimento pessoal necessário para a reflexão sobre si mesmo (e aqui o gancho com o título do post com referência à introspecção). Quando pego o livro e me recolho para a leitura solitária, muitas vezes me pego pensando em outras coisas; pensamento que só seriam possíveis ali naquele momento de silêncio e tranquilidade.
- “…withdrawn from the world, where “the world” is understood in its (originally Platonic, later Christian) sense as the locus of competition and struggle for wealth, power, prestige, and status.” — apesar da série Duna expor de forma intensa todos esses elementos (riqueza, poder, status etc.), o fato de tudo ocorrer 30 mil anos no futuro nos tira daqui e nos coloca em outra realidade. Tudo é muito visceral e bruto. O descolamento da realidade é inevitável e também provoca boas sensações.
- “…a source of dignity“ — de tempos em tempos me sinto orgulhoso em poder comentar com alguém sobre as passagens que li ou sobre personagens específicos dos livros. Sinto também uma satisfação muito particular ao lembrar de tantos fatos e situações narradas em quase 3000 páginas de texto. Deve ser algo semelhante a quem deu a volta ao mundo e “tem muita história pra contar”.
- “…opens space for communion.” — principalmente, imagino, se o conteúdo consumido nos momentos de intelectualidade gera o sentimento de comunhão. No caso de Duna, sim, demais. A base de toda a trama é o conflito entre tribos, grupos de seres (humanos ou não) ou seus acordos. É um tecido social muito complexo que sustenta diferentes culturas e crenças, principalmente. Tudo isso faz você valorizar a comunhão por saber justamente como é difícil viver em desarmonia na ausência de comunhão.
Shai-Hulud. Arte de Elia Pellegrini.