1o de Abril de 2021

URGENTE

Nos chega a notícia sobre a renúncia do presidente Jair Messias Bolsonaro com efeito imediato.

Hamilton Mourão é o novo presidente do Brasil.

Em seu primeiro discurso, Mourão saluda a nação e convida todos a celebrarem o novo Brasil que nasce neste momento.

Seu primeiro ato, o presidente autoriza o ministro da economia a instituir o programa “nova renda Brasil”. O cidadão brasileiro com renda pessoal de até 3 salários mínimos passará a receber uma renda estatal complementar de 28 salários mínimos.

Os impostos federais, estaduais e municipais são convertidos em um imposto único, nacional, de 1% sobre o consumo.

Entusiasmados com as notícias, as câmaras legislativas aprovam não somente todas as reformas antes propostas pelo então presidente Bolsonaro, mas a privatização parcial de todas as empresas estatais Brasileiras.

O estado fica sendo dono de 51% do capital dessas empresas. Os outros 49% serão negociados com empresas privadas nacionais e internacionais.

A todos os funcionários públicos será oferecida a opção de aposentadoria imediata no teto da categoria por meio do “Plano Nacional de Aposentadoria Voluntária”. Esta mudança é importante para permitir a contratação dos trabalhadores que virão do setor privado da economia, todos dispostos a mudar a dinâmica do funcionalismo público brasileiro.

Pouco antes do final do discurso, o ministro de relações exteriores entra na sala da conferência e, esbaforido, traz a notícia sobre um movimento global liderado pelas maiores empresas do mundo nos setores de alimentos, serviços, tecnologia, construção civil e farmacêutico.

São 30.000 empresas sinalizando que investirão 10 trilhões de dólares no Brasil até dezembro de 2021 para instalar suas operações no país e gerar 180 milhões de empregos, diretos e indiretos.

Questionado educadamente por uma repórter da Folha sobre como estes milhões de postos de trabalho serão preenchidos até dezembro, o ministro tranquilizou a todos com mais uma notícia não menos bombástica.

Populações do mundo todo se mobilizaram para exportar seus melhores profissionais para o Brasil e fechar esta importante lacuna laboral.

Neste momento o ministro da Educação, num gesto inesperado, prometeu que trará, também, todas as principais universidades do mundo para o Brasil. Elas deverão construir seus campi, alocar seus professores e ficarão com a responsabilidade de promover, principalmente, melhorias na Educação básica para que todos os brasileiros, sem qualquer discriminação, possam ter acesso a Educação de primeiro mundo e se tornarem cidadãos exemplares.

O ministro da segurança pública pede a palavra levantando o braço direito – o esquerdo segurava o celular junto ao ouvido. Sua fala surpreendeu a todos que estavam ali. O ministro acabara de receber duas ligações, uma do líder do PCC, Primeiro Comando da Capital, e outra do líder do Comando Vermelho. Ambos anunciavam a dissolução total e imediata das facções criminosas em todo país. Seus membros estarão à disposição das autoridades federais para triagens, exames de saúde e encaminhamento para se juntarem às forças de segurança nacional. A condição imposta pelos líderes seria que estes grupos não utilizassem armas de fogo no exercício de suas funções e trabalhassem apenas 4 horas por dia. Todos estariam dentro do programa “nova renda Brasil”.

Aplausos e gritos de emoção ecoaram por toda a esplanada dos ministérios.

Conforme os ânimos foram se acalmando, as palmas cessaram, menos uma. A única pessoa ainda batendo palmas era o ministro da infraestrutura, Tarcísio de Freitas.

Com um sorriso no rosto e olhos cheios de lágrimas, Tarcísio levanta-se da poltrona, ajeita o paletó e inicia sua fala em um tom de voz que poucos ali puderam acreditar.

“Senhores, brasileiros e brasileiras, confesso que fui eu o principal influenciador no processo de renúncia do presidente Bolsonaro. Sim, fui eu. E o fiz assim porque venho liderando desde muitos meses essas ações com empresas globais e líderes de nações para que chegássemos neste 1o de abril de 2021 com notícias felizes para o nosso imenso país.

Nenhuma destas notícias que os senhores receberam em primeira mão hoje são novidade para mim.

Dito isto, aproveito para atualizar vocês sobre os trabalhos da minha pasta, pois creio ser este o momento correto.

Em primeiro lugar gostaria de agradecer ao presidente Bolsonaro por sua renúncia, criando o ambiente político necessário para estes avanços.

Em segundo lugar gostaria de informá-los que a partir de 2022 nenhum brasileiro ou brasileira, adulto ou criança, idoso ou doente, LGBT ou não, terá sua residência instalada numa favela.

Estamos abolindo as favelas como moradia neste país.

A partir de amanhã começaremos a receber navios oriundos da China e de outros parceiros globais lotados de trabalhadores da construção civil, seus maquinários, tecnologias e insumos. Eles serão todos empregados na construção de megacidades na região do sertão nordestino.

Numa primeira fase esperamos receber 100 milhões de trabalhadores chineses que trabalharão por 1 ano na região a fim de criar condições logísticas para a movimentação de materiais e pessoas. Em seguida, pois não podemos esperar, inicia-se a fase 2 com a construção de cidades futuristas nos moldes das mais avançadas cidades chinesas.

Os trabalhadores japoneses ficarão a cargo da construção de usinas nucleares, 30 no total, que produzirão não somente energia elétrica para o Brasil que queremos construir, mas também para nossos parceiros como a Venezuela, a Bolívia e Cuba.

Para Cuba temos planos mais ambiciosos, mas não posso adiantar os detalhes ainda a vocês porque Elon Musk e Joe Biden estão avaliando a proposta que enviamos a eles sobre modernização da Ilha.

A proposta foi construída através de colaboradores de peso do novo governo – correto, presidente Mourão? – os senhores José Dirceu, Guilherme Boulos e Fernando Henrique Cardoso, ao quais saludo desde aqui.

As cidades do futuro serão habitadas pelos brasileiros mais humildes que conhecemos. Eles terão acesso a Educação de primeiro mundo e a um intercâmbio cultural vibrante através dos milhões de trabalhadores asiáticos com quem dividirão espaço na região.

Israel nos apoiará com toda a parte de formação tecnológica e tratamento de água em terrenos áridos.

Esperamos exportar essa água para os estados que são a locomotiva do agronegócio Brasileiro. E, mais do que nunca, precisaremos dele, pois o Brasil será, em 1 ano, um país com 330 milhões de habitantes, na sua grande maioria urbanos.”

Eis que o presidente Mourão interrompe o ministro para alguns comentários.

“Ministro, se me permite, eu também tenho uma revelação a fazer. E creio que somente você, aqui, sabe do que estou falando.”

Alguns jornalistas começaram a demonstrar sinais de estafa e desespero. Uns arrancaram suas máscaras e foram retirados da sala com falta de ar.

“Senhores, minha dedicação exclusiva aos temas da Amazônia por todo esse tempo não ocorreu sem um motivo.

Trabalhamos incessantemente para estabelecer acordos com os povos indígenas que habitam a nossa Amazônia desde antes da colonização.

Comunico a todos o lançamento do maior programa de combate ao desmatamento ilegal do mundo.

Iremos deslocar 100% do nosso efetivo militar para a região amazônica a partir de amanhã. Eles ficarão lotados em pontos estratégicas que receberão os primeiros trabalhadores asiáticos. Seu objetivo será implantar um conjunto de recursos e equipamentos para o monitoramento, proteção e interrupção de quaisquer atividades ilegais envolvendo madeira, animais, minério precioso, água e solo.

A marinha será deslocada para a costa norte do país e dará apoio estratégico no controle de frotas e embarcações para desmantelar a rede logística ilegal que opera na região desde a década de 1980.

Para isso contaremos com o apoio do presidente Biden, que já autorizou o envio de 3 porta aviões e 5 submarinos para o Brasil. Correto, ministro Tarcísio?”

O ministro levanta a mão e faz um sinal de “joinha” para o presidente.

Continuou o novo presidente: “Agradeço a presença de todos hoje aqui. Espero que as notícias sejam bem trabalhadas pelos senhores com total isenção, livres de viés ideológico ou quaisquer preconceitos com as forças armadas.

Queria agradecer ao presidente Bolsonaro por ter reconhecido humildemente a culpa pelos problemas que causava ao país desde sua posse em 2019. Sua pos…”

Um jornalista do Globo interrompe de forma fulminante o presidente. Mais gritos. “Deixa ele falar!! É o Lula!”

O presidente Lula estava numa chamada em vídeo junto com Ciro Gomes e Luciano Huck e demandava falar a todos que estavam ali, afinal, tratava-se de um momento histórico.

“Tem bluetooth? Liga o bluetooth.” – disse o ministro da ciência e tecnologia Marcos Pontes.

A voz do presidente Lula tomou conta da sala e encheu o coração dos presentes de saudosismo.

“Meus queridos, eu queria dizer para vocês que estive errado todo esse tempo a respeito da minha pessoa. Eu não sou o homem mais humilde este país. Nem menos a alma mais pura. Reconheço que Bolsonaro foi o presidente mais humilde que governou o país. Muito obrigado.”

Maria do Rosário solta um grito de horror: “Naaaaaão! Presidente!” Mas na sequência se cala sem que qualquer um ali lhe pedisse.

Luciano Huck resolve deixar sua marca também neste dia histórico e afirma: “Não vou concorrer mais à presidência. Deixa quieto! Segue o show!!!”

Risos na sala.

Ciro Gomes levanta a mão e diz: “Só um momento. Só um momento. Silêncio.”

Todos arregalaram os olhos e ficaram em silêncio aguardando a vez do ex-ministro e sua “voz de trovão”.

“Uma parte dessas notícias eu já sabia, claro. E não vou contestá-las, pelo menos não agora. Vejo que o Brasil está no rumo certo, então declaro minha retirada do campo político. Vocês estão em boas mãos. Irei dedicar-me à nova fase da minha vida. Desde o mês passado interrompi meu tratamento de reposição de testosterona para buscar o encontro com um outro Ciro que vive dentro de mim. Uma pessoa doce e delicada, muito diferente deste homem duro e amargurado que sempre fui. Perdi para o ódio um grande amor, a Patrícia. Por outro lado, achei no deputado Freixo um porto seguro e muitas razões para seguir em frente numa nova fase da minha vida. É só isso que eu tinha para dizer. Fiquem com Deus.”

Todos na sala arregalaram mais ainda seus olhos. Não havia qualquer som que desafiasse o tão silencioso barulho do ar-condicionado.

Presidente Hamilton Mourão levanta-se abruptamente da poltrona, dá um soco de titã na bancada da comitiva e grita: “Selva! Ao trabalho.”